A MANSÃO DOS MORTOS-CRÔNICA
Episódio de hoje - A Mansão dos Mortos!
O ano era 1960, quando tive meus primeiros contatos com o Sagrado, servindo como Coroinha na antiga e saudosa Igreja de São João Batista, que foi arrastada impiedosamente pelas águas no dia 06 de fevereiro de 1982, ficando parcialmente destruída.
Estava ainda nos primeiros dias, mais perdido que cachorro que caiu da mudança, batina vermelha, Roquete ou Rakete branca, lá ia eu para o altar, ao lado do temível Padre Antônio Maffei, um italianão com cara de mau, mas que tinha um coração enorme de bondade. Era meio "estourado" como se dizia naquele tempo, por ter sido prisioneiro de guerra.
Enganando no Latim, do qual só sabia mesmo o "Dominus Vobiscum""Et cum Spiritu tuo" para responder a Missa, no começo nunca era escalado sozinho, porque iria fazer coisa errada. Lembro de alguns amigos Coroinhas: José Vicente Develis, Aldemar Bataglin, Carlos Caldine, Walter Borgato (Bucho) José Luiz Barasnevicius, Ricardo Campioni, Gerson Caldine, Kriguer, Nivaldo, entre outros. Meu trauma era na Quarta Feira a noite, quando tinha Missa de Sétimo Dia. Aquele panão preto aveludado no chão, aqueles quatro castiçais me davam arrepio.!
Por que um belo dia, perguntei a um de meus colegas, onde ficava a Mansão dos Mortos, que a gente rezava na Missa na oração do Credo, se por acaso era lá no cemitério, e o gozador, sabendo que eu era iniciante, disse "Então você não sabe? A Mansão dos mortos é aqui embaixo dessa Igreja, por isso que eles põe aquele pano preto na missa de sétimo dia. Ai em baixo tá cheio de gente morta!"
Para um menino de 9 anos que as vezes se assustava até com a sombra, vocês imaginem o impacto que isso me causou...Vinha daí o meu trauma com as Missas de Quarta Feira a noite e daí entendi o porquê que o padre ficava brabo quando a gente, sem querer, pisava no tal pano preto. Havia o risco de cair lá prá baixo...
E em um belo dia o meu colega de escala não apareceu e tive de encarar sozinho a Missa de uma quarta feira, com aquele pano preto e os quatro castiçais.
Antes da Bênção final, levava a Caldeirinha de água benta e ficava junto do Padre Antônio, com aquele paramento preto que também me metia medo.
Foi daí que aconteceu, no meio da oração, com as minhas pernas finas tremendo, senti aquele negócio passando entre os meus pés. Gente do Céu! Dei um pulo prá frente que derrubei um dos castiçais e ainda derramei quase toda a água benta da Caldeirinha! Padre Antônio, que era carrancudo, naquele momento deu um leve sorriso, ao ver o susto que tomei e nem me xingou naquele dia, o que considerei um milagre.
Pensei que era alguém, da Mansão dos Mortos, no subsolo da Igreja, tentando pegar o meu pé, quando na verdade era o meu bendito cachorro Vira Lata, muito querido, de nome "Braque", que sempre me acompanhava, e que estava até então, dormindo embaixo do primeiro banco e justo naquela hora cismou de se levantar e passar entre os meus pés.... ainda por cima coçando suas pulgas, o que me deu a sensação de um "cutucão". Vida de coroinha não é fácil!
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