O VERBO ENCARNADO E A PEDAGOGIA DE DEUS

 O Verbo Encarnado e a Pedagogia de Deus...

É bem próprio das mulheres, para comunicar-se com uma criança, ou animalzinho de estimação, mudar a voz para dar um tom de carinho, e no caso de uma criança, o bom comunicador senta-se ao chão ou ajoelha-se, para interagir com ela, pois a figura de um adulto, para uma criancinha de dois ou três anos, pode até assustá-la, parecendo um gigante, que ela não sabe se vai lhe fazer o bem ou o mal. Mas abaixando-se, e ficando na mesma altura, a criança brinca e se alegra, deixando de lado o medo e a desconfiança. Nesse sentido, a mãe e o pai são excelentes pedagogos. 

Ninguém precisou ensinar-lhes essa pedagogia, é um dom natural, é preciso se fazer pequeno, para falar e interagir com os pequenos. E aqui já podemos ver a mão do Criador, que ao fazer o homem, o fez á sua imagem e semelhança, colocando nele o seu Espírito, tornando-o desta forma um ser vivente, com todos os seus dons. 

Basta lermos a Sagrada Escritura, desde as suas primeiras páginas, para percebermos em Deus essa mesma pedagogia. Desde as primeiras páginas da Bíblia, se fala de um Deus que procura encurtar as distâncias e desce, ao jardim, à brisa da tarde, chamando o homem que havia pecado e se escondido, por medo e vergonha. “Adão, onde estás?” pergunta Aquele que criou o homem para que lhe seja interlocutor e habite em sua casa todos os dias da vida (Sl 27,4).

Note-se que Deus se faz pequeno, até na fala “Onde estás?”, ele que é Onipresente e Onisciente, não desceu ao paraíso para constranger o homem, fazendo um discurso moralista e autoritário. Ele poderia nunca mais procurar o Homem, a criatura que, dando ouvidos á serpente, se rebelou contra o Criador, muitos teólogos vêm nisso o primeiro gesto de misericórdia Divina para com o homem pecador. E partindo do Patriarca Abraão, onde se inicia a História da Salvação, vamos vendo um Deus que age com delicadeza para com o Ser humano. Faz uma aliança unilateral com Abraão, só ele passa em meio aos animais partidos ao meio, como era a cultura da época, quando se fazia um pacto ou um contrato, Gênesis 15, 10-11. Deus é uma voz que fala com Moisés, quando o chama para a missão, Deus é a Sarça ardente Êxodo 3, 2-4, e mesmo assim, fazendo de tudo para não assustar a sua criatura tão amada, o povo tem medo e pede a Moisés para Deus fale somente com ele “Quando o povo viu os trovões, o som da trombeta, os raios e a fumaça do monte Sinai, ficaram com medo e pediram a Moisés que falasse com eles, mas não que Deus falasse diretamente, Moisés respondeu que não havia motivo para medo, pois Deus estava apenas os provando e querendo que eles o temessem para não pecarem, Moisés se aproximou da nuvem escura onde Deus estava, enquanto o povo ficou de longe {Êxodo 20, 18}

E assim, temos muito medo de Deus, quando nos submetemos ao pecado, assim foi com Adão e Eva, assim foi com o povo, e assim é também, com cada um de nós. Nos escondemos porque Deus é imensamente grande e Poderoso, a mesma imagem que a criancinha tem de um adulto, que lhe parece um gigante.

 Então aconteceu o inacreditável: Deus se despe de todo o seu poder, e faz a sua Kênosis, o seu rebaixamento, o seu esvaziamento, assumindo para sempre a nossa frágil natureza humana, o Gigante assustador, se abaixa, fala com carinho, como a Mãe fala com a criança, senta-se no chão da nossa história, e se torna o Emanoel – Deus conosco. Esse é a mistério da encarnação, tão grande e imenso, que jamais vamos entendê-lo em toda a sua magnitude e beleza: Deus se fez homem, e até exagerou...Poderia ter nascido em uma família nobre, rica e poderosa, morando em um palácio, poderia até mesmo ser aquele Messias que o Israelita sonhava e imaginava, quando lia ou ouvia os profetas: um descendente de Davi vai governar com cetro de ferro todas as Nações da terra. O grande e poderoso Rei Davi, era a única referência para o Rei Messiânico que estava por vir. 

Porém, as coisas não aconteceram do modo humano, mas do modo Divino, Deus sempre nos surpreende. Nasce pobre e pequeno, o parto acontece em uma cocheira com odor de fezes e repleta de moscas, já nasceu sendo rejeitado, é perseguido desde criança, os poderosos querem matá-lo, torna-se Carpinteiro de profissão para sobreviver, forma um grupo de seguidores de origem humilde, e sem aquela perfeição moral que a lei exigia de cada Israelita. Até que um dia chega ao absurdo de se rebaixar diante dos seus discípulos, para lhes lavar os pés, tarefa que cabia aos escravos. 

Mas espetacular mesmo, foi o seu nascimento que celebramos no Natal. Diferente do nascimento de um nobre, os primeiros convidados a irem conhecê-lo foram uns pastores, excluídos da sociedade e da religião, tidos como mentirosos, sujos e malcheirosos, pois cheiravam ovelhas. Esse é o verdadeiro espírito de Natal. Na noite Santa, levemos nossas misérias até o presépio, para que o doce olhar do recém nascido nos purifique com seu amor, e o mais importante, aprendamos com ele a nos fazer pequenos, como pequeno era o reino que ele anunciava, e no qual manifestou e manifesta todo o seu grandioso poder, como nos ensina Santo Tomaz de Aquino : “Para manifestar mais o seu poder, estabeleceu em Roma, que era a capital do universo, a cabeça de sua Igreja, em sinal de perfeita vitória e para que dali se estendesse a fé ao mundo inteiro, segundo as palavras de Isaías: ‘abateu a cidade inacessível; pisá-la-ão os pés dos pobres, isto é, de Cristo, e os passos dos desvalidos’, isto é, dos Apóstolos Pedro e Paulo.”.

Um Feliz e Santo Natal a todos!                                                  

 {Diácono José da Cruz – Bel. Em Teologia}

                                                                                                Paróquia Nossa Senhora Consolata

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